segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sempre Lila

Nunca compartilhei com vocês as poesias de nossa camarada Lila Ripoll. Lila, mulher, comunista, jornalista e poetisa morreu em 1967. Ela é fantástica. Vive para sempre, como ela diria: não morre as sementes, os frutos virão.

Grito - Lila Ripoll

Não, não irei sem grito.
Minha voz nesse dia subirá.
E eu me erguerei também.
Solitária. Definida.

As portas adormecidas abrirão
passagem para o mundo

Meus sonhos, meus fantasmas,
meus exércitos derrotados,
sacudirão o silêncio de convenção
e as máscaras de piedade compungida.

Dispensarei as rosas, as violetas,
os absurdos véus sobre meu rosto.

Serei eu mesma. Estarei
inteira sobre a mesa.
As mãos vazias e crispadas,
os olhos acordados,
a boca vincada de amargor.

Não. Não irei sem grito.

Abram as portas adormecidas,
levantem as cortinas,
abaixem as vozes
e as máscaras —
que eu vou sair inteira.
Eu mesma. Solitária.
Definida.


Viagem - Lila Ripoll

“Andei viajando. Subi montanhas.
Sóis que eram brasa queimando o céu.

[...]

Estradas longas, estradas longas
abrem desejos na alma da gente.

Sonho aventuras.
Andar pra frente.
Nunca pensar no que pode vir.
Ter sempre pressa para chegar,
e sempre pressa para partir”

Manchas (I parte)

Foi sempre tristeza. Tristeza remota, vinda quem sabe
de onde. De que desesperados apelos. De que exilado
sonho.
De que grandeza mutilada,

E foi também solidão. Secreta solidão.
[...]
Na rua alegre e colorida, foi uma mancha
de inútil dissonância.
Ninguém sentiu sua tragédia.
A ausência de seu riso.
A forma quase definitiva de seu rosto.

Um dia, inclinei-me sobre ela
Como quem se procura num espelho.
[...]

4 comentários:

Luiz Octavio Bernardes disse...

Que lembranca !!!. Muito bom...ouvi essas poesias pela primeira vez no campo, perto de Cachoeira do Sul. Linda lembrança. Tenha uma boa semana.

Gláucia disse...

Ela tinha diploma?

GLÁUCIA disse...

ELA TINHA OU NÃO TINHA DIPLOMA?

Manu disse...

Gláucia, estou aqui em Brasilia e, sinceramente, naosei. Imagino que não